Estrada Real de Piódão foi mote de um fim-de-semana de celebração da história e tradição da aldeia
A aldeia de Piódão voltou nos dia 24 e 25 de setembro à sua Estrada Real para um dia de celebração da cultura, dos costumes, da gastronomia e das tradições que distinguem esta aldeia tão caraterística agasalhada pela Serra do Açor.
Em causa esteve o ciclo de eventos das Aldeias Históricas de Portugal, “12 em Rede | Aldeias em Festa”, que desde a sua primeira edição em 2017, tem como objetivo divulgar o património cultural material e imaterial único das aldeias da rede.
Este ano, tal como no anterior, o evento decorreu em formato híbrido, com aposta no contexto presencial e streaming, cumprindo assim com as recomendações da Direção-Geral da Saúde e do Governo português face à situação pandémica.
Piódão vestiu-se de luz, no dia 24 de setembro, e acordou aos primeiros acordes da guitarra elétrica de Vitor Dias e do piano de Miguel Neves, dando as boas vindas e antevendo que o fim-de-semana haveria de ser de grande celebração. Numa alusão às paisagens sonoras e com recurso a alguns sons gravados, toda a composição e interação instrumental se fundiu numa harmonia perfeitamente enquadrada na paisagem, criando a envolvência e a interação dos sons da natureza com os sons produzidos pelos músicos.
Estava dado o mote para o que viria no dia a seguir. O dia de 25 de setembro acordou cinzento e chuvoso, como o xisto que cobre as fachadas das casas, o que tornou o cenário no meio da neblina ainda mais misterioso e surpreendente. A programação iniciava assim com o showcooking “Na cozinha da avó: Sabores de Cá”, pelo chef Fábio Bernardino. Com recurso ao tradicional forno a lenha, e com o xisto a forrar as paredes da sua aprazível cozinha, não foi difícil deixar-nos curiosos com o que estava prestes a criar. O ingrediente em destaque era o ovo, o mesmo que durante séculos viajou à cabeça das mulheres do Piódão, nas longas viagens pela então Estrada Real. Fábio Bernardino, apostado em dar o seu toque especial a estes ingredientes endógenos, pôs toda a gente com a “mão na massa” e transformou-os em deliciosas composições culinárias. Para além dos ovos, destaque ainda para a marmelada, a compota, o queijo, o mel e o pão.
A postos, no Posto de Turismo de Piódão, estava já Vanda Andrés, artesã local, para dar início ao workshop “Quem não pode com o pote não pega na Rodilha”, no qual ensinou como elaborar rodilhas, as mesmas que, a par dos ovos, também viajaram nas cabeças enquanto apoio às cestas e cântaras, pela Estrada Real.
A programação seguiria depois de almoço evocando aquelas que são as tradições da aldeia, com uma caminhada à qual se deu o nome “O caminho do pão”. Neste périplo foi possível perceber todo o processo que há anos era rigorosamente executado, para no fim poder saborear pão e broa, cozidos no forno comunitário. O caminho iniciou pelos socalcos onde em tempos era semeado o milho, passando pela Eira onde depois de colhidas as maçarocas, era descamisado, malhado e posto a secar, até ao moinho onde era transformado em farinha e ensacado. Depois de amassado, levedado e benzido era levado a cozer. Numa recriação muito autêntica e para grande espanto dos participantes, a chegada ao forno comunitário recentemente recuperado, foi acompanhada de um aroma intenso a broa e pão acabados de cozer. Surpreendidos, provaram pão e broa quentinhos e artesanais, regados com um fio de mel. Pela aldeia já se ouvia ecoar pelas ruas a Tocata do Rancho Folclórico Malmequeres da Cerdeira, que trouxe um pouco de tradição musical ao evento.
A encerrar a programação, dois grandes concertos eram aguardados na antiga Escola Primária de Piódão. Laurent Filipe Trio, com Laurent no trompete e na voz, Bruno Santos na guitarra e Massimo Cavalli no contra baixo, apresentou um reportório original constituído por alguns dos seus temas instrumentais e vocais favoritos, naquele que foi também um tributo aos seus ídolos inspiradores. Seguiu-se Manel Cruz, o incontornável nome por trás da banda de culto Ornatos Violeta que, depois de um hiato de sete anos e de projetos musicais como Pluto, Foge Foge Bandido e Supernada, regressa a solo com o álbum Vida Nova. Ao som da guitarra juntou-se o ukulele e aos temas do novo álbum um punhado de composições de Foge Foge Bandido e mesmo Ornatos Violeta.
O evento “Piódão: Estrada Real”, do ciclo de eventos da rede de Aldeias Históricas de Portugal “12 em Rede | Aldeias em Festa”, despediu-se de Piódão já a noite caíra, orgulhosamente e com a certeza de que prestou à cultura, ao Piódão e às suas gentes uma homenagem e um revivalismo que não deve nunca ser esquecido, mas sim enaltecido pela sua autenticidade. O Piódão espera ansioso pelo próximo evento 12 em Rede e por si, para o receber de braços abertos e nunca mais lhe sair do coração.