Celebração da arquitetura do Piódão ‘em casa’ após reconhecimento internacional
Depois do reconhecimento internacional, a arquitetura do Piódão celebrou-se em casa.
A renovada praça da Aldeia Histórica do concelho de Arganil revelou-se a sala de visitas ideal para uma envolvente conversa a várias vozes sobre o projeto finalista do Prémio Mies van der Rohe, na categoria Emergente.
Especialistas da área da arquitetura e envolvidos no projeto de requalificação da praça e do posto de turismo debateram as motivações, a importância e o processo da intervenção, bem como as principais mais-valias da obra para a comunidade e para a promoção do território.
“Estamos muito orgulhosos com o resultado que aqui foi possível obter”, reconheceu o presidente da Câmara, Luís Paulo Costa, na abertura do evento que deu a conhecer de uma forma mais completa a obra concretizada.
O trabalho dos arquitetos Paula del Rio e João Branco (ateliê Branco del Rio), encomendado pelo Município de Arganil, foi o único candidato português a chegar à derradeira fase do principal galardão de arquitetura da União Europeia. Passou por lista inicial de 362 trabalhos até chegar ao restrito elenco dos sete finalistas.
“Estamos aqui porque na Europa alguém achou que isto é diferente”, realçou Paula del Rio. “Ficámos muito surpreendidos [com a nomeação], porque é uma intervenção muito humilde, muito silenciosa, em que uma pessoa chega e parecer que não se fez nada”.
Para a arquiteta, celebrar o reconhecimento internacional é importante, sobretudo quando se trata de uma intervenção que “muda a vida das pessoas”, mantendo “as suas raízes e dando continuidade ao que existe e funciona”.
Praça exclusivamente pedonal
Luís Paulo Costa destacou a importância do evento como uma oportunidade para “disseminar a boa prática de arquitetura que aqui conseguimos e de discutir as filosofias subjacentes a esta intervenção, que teve como grande mote retirar os carros do largo e deixar este espaço disponível para as pessoas”.
As soluções construtivas utilizadas tanto no edifício do posto de turismo como na praça mantivera a cultura material e de construção, transmitindo uma certa sensação de que nada foi feito, de que sempre foi como está.
“Há três anos, não era possível estar aqui sentado, porque tudo isto era um grande parque de estacionamento”, referiu João Branco, explicando que a deterioração do pavimento se devia à presença dos carros ao longo dos anos. A plantação de cerejas em torno da praça foi a solução encontrada para que “os carros deixassem de entrar” e se criasse “distância relativamente à estrada de acesso à aldeia, cuja presença era muito forte”.
Quanto ao posto de turismo, o projetista explicou que o desafio foi transformar o edifício dividido em dois, sem ideia de conjunto, num espaço livre para poder ser apropriado e devidamente aproveitado. No exterior, “tornámos o telheiro mais simples, mantendo os materiais e o tipo de construção tradicionais”, explicou.
Para Luís Paulo Costa, a simplicidade e a serenidade do conjunto arquitetónico tornam a obra diferenciadora. “A intervenção está alinhada com aquilo que é a nova tendência do novo Bauhaus europeu, que considera, quase sempre, que menos é mais e que intervenções pequenas podem de facto ter um impacto muito positivo”.
“Excelente aplicação de fundos públicos”
As intervenções concretizadas na Aldeia História do Piódão foram inauguradas em novembro de 2022 e envolveram um investimento do Município de Arganil na ordem dos 930 mil euros, financiado em 400 mil euros pelo Turismo de Portugal, no âmbito do Programa Valorizar.
Em representação do Turismo de Portugal, José Luís Marques, Diretor da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, enalteceu a obra concretizada, considerando que “a intervenção financeira realizada no Piódão traduz uma excelente aplicação de fundos públicos”.
Participaram ainda no debate o arquiteto Nuno Grande, o presidente e a coordenadora da Associação das Aldeias Históricas de Portugal, Carlos Ascensão e Dalila Dias, respetivamente, e José Reis, professor da Universidade de Coimbra.
O evento encerrou com um convite à celebração da arquitetura e vivência daquele espaço público com música e dança animadas, num entardecer prolongado até ao pôr-do-sol.